Confessionário S.O.S
17:54Por Débora Queirós
Sou de uma família considerada ‘normal’ aqui de São Paulo. Não nado em rios de dinheiros, mas não passo necessidades. Sempre fui feliz, tive os amigos que sempre quis, estudava num colégio que eu amava e minha família sempre foi tudo pra mim.
Em 2004 as coisas começaram a mudar. Minha avó materna era tetraplégica (não mexia nenhum musculo do pescoço para baixo), dependia de cadeira de rodas e dos três filhos. Ela ficava um tempo na minha casa e ouro na do meu tio do interior, porque o terceiro filho morava sozinho e trabalhava. Em abril, ela começou a ter uns problemas de saúde e faleceu em 05 de abril de 2004. Ela era separada do meu avô, mas mesmo assim ainda mantinham contato. 15 dias depois da sua morte, meu avô estava trabalhando, como todos os dias, com carreto. Até que bateram no caminhão dele e ele ficou MUITO nervoso. Ele sempre teve problemas no coração, tinha quatro pontes de safena e duas mamárias. Depois dessa briga de trânsito, ele foi para UTI e faleceu em quatro dias. Sim, em 20 dias eu perdi duas pessoas essenciais na minha vida: meu avô e minha avó. Eu tinha só 6 anos, mas lembro perfeitamente como foi. Dentro de um mês, mais dois primos meus também se foram.Em 2005, só pensamos em mudar de casa, já que tudo os lembrava, principalmente minha avó. Mudamos de uma casa grande para um pequeno apartamento, em outro bairro. Mudei de colégio. Fui para um colégio pequeno, porém bem acolhedor, mas não conseguia não chorar e sentir falta do meu antigo colégio. Dois anos e meio se passaram, estava indo para a quinta série, mudei novamente de escola. 2008 e 2009. Ai os meus maiores problemas começaram. Sofri bullying por ser gordinha, baixinha e por querer muito carinho, porque desde a morte dos meus avós eu fiquei muito mais sensível. Era todos os dias a mesma coisa: me zuavam, riam de mim, colocavam apelidos, tinham nojo de mim, sem eu dar motivos. Eu não podia reclamar em casa, que ouvia sempre do meu pai: ‘ - Eu sempre te avisei que colégio não é lugar de amizade, tem que pensar somente nos estudos. ’ E foi assim que eu fiz, no colégio só me preocupei em estudar, mesmo sempre sobrar na hora de duplas ou trabalhos. Ficava horas na internet, tive muitos amigos e relacionamentos virtuais. Me fudi muito. Comecei a largar um pouco os estudos e por pouco não repeti. Comecei a ter algumas amizades estranhas e pra aliviar a dor do colégio aprendi a me cortar. Tenho varias cicatrizes no corpo, principalmente de letras. Aprendi também a ser bulêmica. Eu vomitava quase tudo o que comia, isso quando não tomava laxantes. Não sei se cheguei a emagrecer muito, só sei que não adiantou e as zuaçoes continuaram. Logo parei.
Certo dia, estávamos nos preparando para a dança de apresentação da Consciência Negra e eu não conseguia fazer uma parte, quando um infeliz gritou: ’ - Claro que não consegue, sua obesa.’ Foi o pior dia naquele colégio. Eu não me achava gorda, mas as pessoas sempre me julgavam e eu achava que estavam certas. Eu passei aquele dia inteiro chorando, conversando com a psicóloga do colégio, mas nada adiantava. No da seguinte, invente que estava doente e faltei duas semanas seguidas. Só fui a ultima semana de aula. E nessa ulima semana, me descontrolei e bati em um menino que me irritou. Nessa hora, ais uma vez, todos foram contra mim. Levei advertência e pela primeira vez meu pai concordou que eu estava certa. Acabaram as aulas, fiz terapia por 6 meses e parei porque achei que ão estava resolvendo. Quando voltou às aulas, ano passado, comecei em outro colégio e enfim eu descobri, depois de alguns anos o que era ser feliz.
Obrigada quem veio até aqui,
por ter lido minha história
e talvez agora ter entendido porque sou assim.
0 comentários