São Braz

14:07

Por Andressa Soares

Eu poderia falar de tudo o que deu errado. Falar do descaso, da falta de tato, do sentimento que, embora grande, sempre foi sufocado pelo medo. Poderia falar também das noites em claro, sobre a luz do meu Nokia 5530 que alarmava - ainda mais quando não acendia. E, falando nisso, eu poderia falar do egoísmo, da criancice e começar a construir um diálogo bem do tipo “não entro mais nesse jogo”, mas só em perder meu tempo desembrulhando amarguras, já teria entrado na dança. Não quero mais. Não devo. Não tenho tempo. 

Depois de gastar todas as minhas energias com angustias e frustrações, que hoje - embora não me arrependa - julgo completamente desnecessárias, a única coisa que quero é perder meu tempo bebendo um vinho ruim. Daqueles que no outro dia te dão uma dor de cabeça e a vontade de não ter sido tão inconsequente. Eu quero beber e rir com os amigos, aproveitar enquanto estou viva e os arrependimentos ainda não são eternos. Um novo amor, novas histórias e uma vida baseada nas experiências que me foram privadas por estar presa à um mundo imaginário, onde eu achava que vencia todas as batalhas. Perdi.

Se for pra perder de novo, quero ter consciência de tudo o que senti, lembrar do toque, das cores e dos cheiros. Porque o tempo passa e não quero ter presa na memória apenas a lembrança bagunçada de um fantasma gerado por minha imaginação. É por isso que peço à vida, como um bêbado nada experiente, que chega pro garçom com um jeitinho manso, na mesa escondida num canto do bar "uma garrafa de São Braz, por favor".

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